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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

ALGARVE CLASSIC FESTIVAL: UM PÓDIO PARA O "TEAM MANCHA"

"Obter um 3º lugar na categoria H71 saindo do ultimo lugar de uma grelha de 36 carros de noite e sob chuva. Foi obra…
Mas tudo começou mal logo nos treinos. Ao entrar para a pista senti que a tração não era normal, uma roda ou algo plissava e dei apenas duas voltas para evitar danos maiores. Verificou-se que era o cubo de uma das rodas não estava solidário com o respetivo veio.
De facto depois da corrida de Vila Real em que rodei 4 voltas com o pneu esquerdo furado e o carro sob forte vibração pedi que me desmontassem toda a transmissão traseira para verificar se havia danos. É que o Lotus é muito frágil e a corrida seguinte seria precisamente esta no Algarve e não queria chegar à prova com problemas mecânicos herdados da prova anterior.
Qualquer tratado de preparação na competição automóvel aconselha este procedimento mas eu nem sempre segui as regras “by the book” e tive vários dissabores que agora mais velho e mais experiente tento evitar. O problema é que um Lotus Elan competitivo como o nosso “Mancha” é um carro muito sensível pelo número de peças especiais de competição que incorpora mas também é isso que lhe permite fazer boa figura com apenas 1600cc. 
Para a corrida 1 efetuaram- se algumas correções no aperto do cubo deficiente mas desde logo a avaria reapareceu e também só dei duas voltas. O cubo estava inutilizado e o respetivo veio acusava as deficientes condições em que trabalhou.
Estes veios num aço especial e que veem de Inglaterra não tem chaveta ao cubo como os dos carros de estrada o que lhes traz  vantagens por não terem zonas criticas de fratura ao serem sujeitos a esforços de rotação e flexão mas requerem uma montagem muito delicada que nem é rápida nem fácil de efetuar sobretudo quando já não são componentes novos.
Mas a deslocação a Portimão é dispendiosa tínhamos até comprado pneus novos e ainda não estávamos prontos a desistir. Havia outra corrida no Domingo. Se queríamos alinhar a equipa técnica achava que no mínimo era preciso arranjar outro cubo, nem que fosse usado.
E aí, já de noite começa a nossa corrida contra o tempo. Lembramo-nos que tínhamos na nossa garagem no Porto um conjunto de suspensão traseira muito velha e ferrugenta, era preciso ir lá alguém busca-la e tratar de a fazer chegar ao Algarve urgentemente para lhe extrairmos o cubo.
Ironicamente há 3 anos tivemos uma situação semelhante com uma caixa de velocidades e dois “manchas” foram do Porto ao Algarve levar-nos uma caixa de recurso com que corremos. Mas desta vez eles estavam lá connosco por isso restou telefonar a um que este ano não tinha ido, o Rui Viterbo. Foi ele que foi á garagem enviou fotos para confirmarmos que a peça era a do lado pretendido e contratou um estafeta capaz de nos colocar as peças no Autódromo durante a manhã de Domingo. A nossa corrida era a última do dia por isso talvez fosse possível arrancar o cubo aquele monte de ferrugem e por o carro na grelha.
Habitualmente a RP Motorsport  só não mete os seus carros na grelha se for humanamente impossível mas eu estava tão desiludido que fui para a bancada ver as corridas sem grandes  esperanças.

Às tantas o nosso habitual chefe de equipe o Ecas procurou-me para perguntar se era para montar os faróis suplementares já que tudo indicava que a corrida iria ser noturna. É aí que me apercebo que afinal o carro estava pronto a alinhar, na última posição mas alinharia!
Dada a partida a esteira dos carros da frente e a confusão gerada pela falta de visibilidade levou a que se criasse um efeito de harmónio e os que seguiam mais á frente começaram a destacar-se, os nossos faróis não iluminavam bem a pista e eu não tinha rodado praticamente nada naquele fim-de-semana e nunca tinha rodado ali de noite.
Mas tentei ser positivo e disfrutar da situação pois vi fazer-se todo o tipo de condução à minha frente, travei inúmeras vezes em desespero para não bater em carros que se atravessavam á frente, levei com faróis por trás tão fortes que quase me empurravam mas enfim estava contente por finalmente estar a andar de novo na minha pista favorita e lá fui entre lutas e despiques avançando até ficar sem nenhum carro à minha frente.
A gora tinha que procurar chegar-me ao próximo grupo mas é aí que sem referencias á frente verifico que os meus faróis eram insuficientes por isso comecei a concentrar-me nas zonas que conhecia e fazia bem: travagem tardia no final da reta da meta, zona do gancho da torre VIP e curva Craig Jones. O resto era mais ou menos…
O set up do carro estava fantástico e o motor que nem um relógio o que me permitiu fazer velocidades alucinantes na reta e ainda travar bastante tarde para a curva 1 assim como corrigir sem problemas algum pequeno desequilíbrio em zonas que dominava pior ou quando apanhava óleo na pista. A velocidade máxima oficial medida foi de 194,9 km/h muito perto do que faço em seco, não fiz nenhum pião e apenas tive um pequeno desentendimento numa dobragem. 
Quando paro na box para fazer o tempo o chefe de equipa surpreende-me dizendo que estava a fazer bons tempos consistentemente e que a continuar assim teria hipóteses  de ir ao pódio.
O meu melhor tempo nos H71 só foi batido por um Escort e por um Porsche que usava pneus de chuva não permitidos.

Entretanto os mecânicos na ansia de me melhorarem a visibilidade metem-me um tubo para evitar o embaciamento e a minha paragem acaba por ser um pouco demorada. Mas parti mais animado e mais luta menos luta nem vi a bandeira de xadrez porque o tal tubo soltou-se pouco depois e acabou foi por me dificultar a visibilidade á minha direita. Por isso só quando vi os semáforos todos a piscar ao longo da pista é que compreendi que a corrida tinha terminado.
Mas a surpresa maior estava para vir quando entro no Pit lane e o comissario manda seguir o carro para o pódio. Tinha mais uma vez “in extremis” conseguido classificar o Lotus Mancha!
Alegria geral na equipa (junto foto) e segundo as ultimas noticias parece que afinal apesar de no pódio ter figurado em terceiro parece que garanti mesmo o segundo lugar pois o primeiro terá sido desclassificado pelo uso dos tais pneus de chuva.
Para os Manchas teve sabor a vitória: a Vitória da persistência!      
A Todos que incentivaram o Team Mancha localmente ou à distancia aqui fica o meu agradecimento."

*por Alexandre Guimarães - piloto do "Team Mancha"

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